Alain de Botton é um filósofo contemporâneo, nascido na Suíça, em 1969. Vive em Londres, onde fundou e é administrador da “The School of Life”, uma instituição que promove, investiga, reflecte e desenvolve novas formas de educação que contribuam para que as pessoas vivam melhor.
É conhecido como “o filósofo da vida cotidiana”, pela autoria de livros de ensaios e programas de televisão que discutem temas mais ou menos prosaicos. Foi com “How Proust Can Change Your Life (Como Proust pode mudar sua vida), em 1997, que Alain de Botton se viria a tornar mundialmente reconhecido. Um livro baseado na vida e obra de Marcel Proust e a partir do qual Botton extrai de forma majestosa elementos para refelectirmos e, eventualmente, melhorarmos a nossa vida. Um livro amplamente vendido nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha.
Outros publicou, sendo de destacar “A arquictetura da felicidade” e “A arte de viajar”, ambos publicados, em Portugal, pela D. Quixote, tal como este “O ódio a si mesmo”. Em cada uma destas obras, Alain de Botton convida os leitores a uma observação atenta para uma tomada de consciência de si próprios.
É precisamente desse modo que “O ódio a si mesmo” começa, com um teste em forma de questionário, que tem como objectivo avaliar a consciência da identidade de quem começou a ler este ensaio. O resultado é um ponto de partida para o leitor saber se se enquadra no conjunto de pessoas que se odeiam a si mesmas e se o grau de desprezo é ou não patológico. Razão pela qual, o autor, vai sugerindo, ao longo do livro, que se consulte um especialista para realizar terapia.
No capítulo III, o autor discorre sobre as consequências do ódio a si mesmo que, no limite, podem desencadear um processo de auto-destruição que culmina com o suicídio. Segundo Alain de Botton, “as pessoas não se matam por lhes ter acontecido coisas más; matam-se porque já sofrem de um intenso ódio a si mesmas” (pág. 63), sendo um ou outro acontecimento infeliz a demonstração dessa irrefutável justificação para o auto-extermínio.
O capítulo IV, “As origens do ódio a si mesmo”, é particularmente interessante, na medida em que o autor convida o leitor a uma viagem ao passado, numa espécie de terapia por regressão. O objectivo é conduzir o leitor a observar-se, como se estivesse numa plateia de um cinema, em cuja tela passam as cenas dos episódios mais marcantes da sua infância.
A partir dessa análise em perspectiva e retrospectiva, o leitor terá elementos para compreender o seu modo de ser e até as razões por que se odeia – talvez, desse modo, consiga encontrar formas de aceitar as suas características e até mesmo limitações.
Na verdade, Alain de Botton não oferece receitas, tampouco sugere que se poderão alterar/melhorar essas características ou limitações. Aquilo que o autor propõe é que cada um se avalie de forma objectiva, começando com a recuperação das memórias, pesquisando de forma profunda os sentimentos que se terão vivenciado na infância, em especial com os respectivos progenitores e familiares mais próximos, como os irmãos.
Os instrumentos de trabalho são, por isso, os da auto-análise, com recurso à visualização e sensorialização dos contextos iniciáticos. É possível que, desse modo, se consiga apreender a ira sentida e as respectivas causas. Nesse processo de auto-descoberta, mostra-se provável que se alcance um dos propósitos deste ensaio: a capacidade de se perdoar a si próprio, que é o primeiro passo para a auto-aceitação.
As estratégias que o autor propõe surgem no sentido de aprofundarmos a aceitação de que ninguém, incluindo nós próprios, é perfeito e que, em cada um de nós, mora um idiota adorável. Com o exemplo de David Brent, o chefe da série “O escritório”, o autor lembra-nos que são as idiossincrasias que nos tornam peculiares e, por isso também, objecto do amor fraterno.
Esta recensão foi publicada no Jornal Página 1.