“O Delírio Nazi – Os académicos de Himmler e o Holocausto” – Sugestão de leitura

A jornalista e escritora de Alberta (Canadá), Heather Pringle, é autora de vários livros, entre os quais “The Mummy Congress” e “In the Search of Ancient North America”. Além disso, é editora emérita da Revista de divulgação científica, Hakai, tendo vários artigos publicados na Revista National Geographic, para a qual trabalhou vários anos como freelancer.

Antes de se dedicar à escrita, Heather Pringle foi investigadora num museu e trabalhou como editora. A sua formação e gosto pela arqueologia são o mote para as suas pesquisas pelos meandros da história e dos mortos.

Vencedora de dois prémios de jornalismo científico, Heather também ganhou o prémio de não-ficção Hubert Evans com a obra, agora, publicada pela Casa das Letras (já traduzida para sete idiomas).

Começando com a vida e ambição de Heinrich Himmler – o segundo homem mais poderoso da Alemanha nazi –, a autora descreve as fases e respectivos intervenientes do processo de edificação do Instituto Ahnenerbe, cujo grande objectivo era demonstrar a existência e a origem de uma raça humana mais digna de admiração e até de submissão.

Todas as pessoas, directa ou indirectamente, associadas ao Instituto foram escrupulosamente pesquisadas e documentadas. Por intermédio desta investigação minuciosa, a autora constrói uma linha condutora de todo o processo inerente às pesquisas da instituição que, no final, terão contribuído para alcançar aquilo que Himmler mais desejava: demonstrar a existência de uma raça superior.

Note-se, porém, que Hitler se opunha a muitos dos empreendimentos de Himmler. Na opinião do primeiro, era conveniente que se ultrapassasse a superstição e o misticismo. Foi precisamente, esse, o grande esforço de Himmler, o de encontrar e fundamentar cientificamente a origem e existência de uma raça humana superior: a raça ariana.

O que mais impressiona nesta obra é o detalhe e a profundidade. Com efeito, de forma profunda e meticulosa, Heather Pringle descreve, como quem conta uma história repleta de pormenores articulados das vidas de cada uma das personagens, a fundação e evolução dos trabalhos do Instituto Ahnenerbe, sob a alçada de Heinrich Himmler.

O controlo do Estado é visível na ascensão de Himmler e do nazismo, o que se viria a repercutir nas próprias universidades. Na verdade, as SS estenderam os seus tentáculos aos mais diversos sectores da vida alemã, criando aquilo que os historiadores viriam a designar de “estado dentro do estado”. A Ciência ao serviço do Estado, a Ciência ao serviço do nazismo.

Himmler planeava “controlar tudo o que seria ensinado nas salas de aula da universidade. Desta forma, as versões nazis da história, da pré-história, da genética e da biologia acabariam por substituir a verdadeira investigação académica” (pode ler-se na página 138).

Esta obra de 2006, recentemente traduzida para português e publicada pela Casa da Letras é, sem dúvida, um convite à reflexão, não apenas sobre o Holocausto, mas igualmente sobre as guerras da contemporaneidade. Em particular, sobre a construção das narrativas que tentam justificar as guerras, pela parte de quem detém o poder.

É possível afirmar que esta obra é de leitura obrigatória para quem se preocupa com a busca da verdade e pela missão da Ciência. Efetivamente, para compreender o presente e intervir para um futuro com esperança, é fundamental conhecer e compreender o passado.

Seremos, nós, capazes de aprender com a História?

Esta recensão foi publicada no Jornal Página 1.

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