“É tempo de reacender as estrelas” – Sugestão de leitura

Nascida em Bórdéus em 1977, a francesa Virginie Grimaldi publicou o seu primeiro romance, “Le premier jour du reste de ma vie”, em 2015, e desde aí não mais parou, tendo-se tornado, em 2020, a escritora mais lida no seu país.

O sucesso tem sido internacional: sete romances – o último dos quais, Les Possibles, publicado no ano passado –, com edições em duas dezenas de línguas. No entanto, este é o primeiro livro publicado em Portugal.

Não será estranho compreender, pela leitura de “É tempo de reacender as estrelas”, que já tenha vendido mais de um milhão de exemplares em todo o Mundo. A leveza e humor com que a autora permeia e premeia o romance provoca, no leitor, uma vontade inexplicável de avidamente prosseguir até à última página.

É o livro ideal para uma escapadinha num local tranquilo, onde o silêncio seja cúmplice para desfrutar de uma viagem ao Cabo do Norte e, assim, contemplar as auroras boreais e outras paisagens melodiosas, onde o sol da meia-noite é um dos protagonistas.

O romance aborda uma história contada em três versões – por uma mãe e as suas duas filhas. Cada versão tem uma voz e um registo distintos.

A versão da mãe, Anna, na primeira pessoa, é a história de uma vida difícil, de uma mulher divorciada, com 37 anos, e das suas vicissitudes e dificuldades para conseguir pagar (sem sucesso) todas as despesas sozinha. As dívidas acumulam-se sem que saiba como se desenvencilhar dos credores. Para piorar ainda mais a situação, Anna é convidada a despedir-se de um emprego desgastante, cujo horário não lhe permite passar tempo útil com as filhas, uma de 17 anos, Chloé, e outra de 12, Lily.

A indemnização, que serviria para pagar todas as dívidas e relaxar durante algum tempo, é usada para viver uma longa viagem de autocaravana com as filhas até ao Cabo Norte. A decisão é acelerada, e posta em prática no dia em que Anna vê um homem nu na casa de banho de sua casa. 

O registo de Chloé, uma jovem angustiada e sem auto-estima, é conhecido através do seu blog pessoal, no qual a personagem partilha com quem quiser ler tudo o que se passa na sua vida, desde as discussões com a mãe por causa do pai, com quem não está há anos, às dúvidas relativas à sua activa vida pouco amorosa e sexual.

Lily encontra num diário, que nomeia de Marcel, o seu amigo confidente a quem relata, com a ingenuidade típica de uma adolescente, os acontecimentos do seu dia-a-dia, incluindo os que os adultos denominam de bullying.

O tom da narrativa varia, por isso, em cada capítulo – geralmente curtos – sendo mais intimista e revelador na versão adulta, a de Anna.

A voz da jovem é tão banal quanto assustadora em termos de teor. Com efeito, os dilemas, angústias e dúvidas reveladas através do blog de Chloé são, provavelmente, os de muitas outras jovens. Sendo, por esta razão, uma excelente oportunidade para as leitoras com filhas nesta faixa etária. Ainda que seja um romance levezinho e algo superficial, os temas aqui abordados são, certamente, as questões que geram rupturas entre gerações, entre mães e filhas (no caso deste romance).

A escrita diarística é marcada pelo humor ingénuo e jovial, típico de uma adolescente observadora e atenta.

No conjunto, as três personagens entrelaçam as suas vidas como um jogo do gato e do rato. Quem fica a ganhar é o leitor apreciador de romances de Verão.

É, também, o relato de uma viagem inspiradora, em que o cenário de algumas cidades escandinavas se torna, em certos momentos, mais um protagonista.

A aprendizagem da mãe é uma constante e o modo como gere e lida com os problemas das filhas pode ajudar outras mães a encontrar outras perspectivas com humor.

Esta recensão foi publicada no Jornal Página 1.

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