Jonathan Haidt é um psicólogo social americano e professor de Liderança Ética na Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque. Nascido em 1963, Haidt é conhecido pelo seu trabalho em psicologia moral e política, e a sua investigação centra-se no modo de as pessoas formarem os seus julgamentos morais. Doutorou-se em Psicologia Social pela Universidade da Pensilvânia, em 1992, tendo leccionado na Universidade da Virgínia durante 16 anos.
Haidt ganhou notoriedade com o seu livro The Righteous Mind: Why Good People Are Divided by Politics and Religion (2012), no qual explora as raízes psicológicas das divisões políticas e religiosas. Juntamente com Greg Lukianoff, publicou outra obra relevante, The Coddling of the American Mind (2018), dedicada às mudanças culturais e educacionais que, segundo os autores, estão a fragilizar a geração mais jovem.
Com este A Geração Ansiosa (Publicações Dom Quixote), Haidt vai além das alterações culturais, demonstrando como as redes sociais, mais do que transformarem a cultura, estão a transfigurar a humanidade, desde 2010. Esta obra apresenta uma análise profunda e crítica sobre o colapso da saúde mental entre os jovens da chamada “Geração Z” (Gen Z), os que nasceram depois de 1995.
Esta é uma leitura obrigatória para todos os pais, educadores e responsáveis políticos pela educação e saúde na infância, adolescência e juventude. Deste modo, todos serão confrontados com o seu papel no aumento dos distúrbios mentais (mas não apenas) dos jovens nascidos depois de 1995 e, sobretudo, dos que, desde 2010, têm acesso às redes sociais.
A hipótese do autor é a de que, desde a década de 1980, temos vindo a assistir à reconfiguração da infância por duas ordens de razões: a super-protecção do mundo real por parte dos pais, devido ao que o autor designa de ‘safetism’; e a sub-protecção no mundo virtual.
Esta grande reconfiguração da infância transformou esta fase da vida, primordial sob o ponto de vista da socialização – enquanto processo de aquisição, aprendizagem e interiorização das normas, valores, comportamentos e atitudes da sociedade (enquanto processo de integração nos grupos sociais de que fazemos parte) –, a partir da combinação daquelas duas grandes tendências: o medo de deixar as crianças brincarem sem vigilância parental (dito de outro modo: parentalidade excessivamente protectora) e a permissão para navegarem no mundo virtual sem qualquer limitação e protecção. Desde então, passou-se de uma infância centrada na brincadeira para uma infância centrada no telemóvel (smartphone).
O declínio da infância baseada na brincadeira tem provocado quatro danos fundamentais nas crianças e jovens: privação social, privação do sono, atenção fragmentada e dependência. Não é estranho, por isso, que a Gen Z, a primeira a crescer inteiramente na era digital, se tenha tornado, segundo Haidt, uma “geração ansiosa”, marcada por altos índices de ansiedade, depressão, auto-mutilação e suicídio.
O autor descreve a génese e fundamenta todos aqueles danos, demonstrando, também, como as redes sociais prejudicam mais as meninas e raparigas do que os rapazes. O livro está pejado de estudos que comprovam tudo e mais alguma coisa, sendo certo que só quem não quer é que não verá o que está à frente dos nossos olhos, tão-só porque os adultos da geração de 1970 e 1980 não querem reconhecer os pais helicópteros em que se converteram. Se é de provas que precisam, basta folhear a 150 páginas de notas e referências bibliográficas, onde se encontram todos os estudos, dados e afins sobre o estado mental, as suas causas e consequências.
A “onda gigante de sofrimento” da ‘geração ansiosa’ tem causas e estão estudadas e documentadas. Apesar do cenário preocupante, Haidt é generoso e sugere um plano de acção para reverter o marasmo em que vivemos, propondo quatro medidas fundamentais: adiar o uso de smartphones até ao ensino secundário, proibir o acesso às redes sociais antes dos 16 anos, criar escolas livres de dispositivos móveis e incentivar as brincadeiras não supervisionadas durante a infância. Haidt defende que estas acções são essenciais para restaurar uma infância mais saudável e equilibrada na era digital.
Para isso, é primordial que a acção seja colectiva. Importa que pais, educadores e responsáveis políticos se unam e coloquem em prática aquelas e outras medidas. Caso contrário, de uma infância centrada no telemóvel passaremos a ter adultos extra-terrestres, cuja ‘vida’ virtual será, provavelmente, a única que saberão ‘viver’. Um curto excerto (p. 187):
“Assim que os adolescentes passaram dos telefones básicos para os smartphones, tanto a quantidade como a qualidade do seu sono diminuíram em todos os países desenvolvidos. Os estudos longitudinais demonstram que o uso do smartphone antecedeu a privação de sono (…) os seus efeitos são vastos. Incluem depressão, ansiedade, irritabilidade, défices cognitivos, problemas de aprendizagem, pobre desempenho académico, mais acidentes, mais mortes por acidente”.
Esta recensão foi publicada no Jornal Página Um.