“In Memoriam”, escrito por Alice Winn e publicado pela Casa da Letras, é um romance emocionante que nos transporta para os horrores e complexidades da Primeira Guerra Mundial, enquanto entrelaça uma história de amor ilícito entre os protagonistas, Gaunt e Ellwood.
A narrativa desenrola-se entre os acontecimentos da guerra, começando em 1914, num colégio interno na Inglaterra rural. Gaunt e Ellwood são dois jovens estudantes que lidam com as suas próprias lutas internas num espaço de masculinidade latente, sendo ambos confrontados, por razões distintas, com as realidades cruéis do conflito iminente.
A autora retrata habilmente o contexto histórico, mergulhando-nos em paisagens vívidas e caóticas que nos conduzem para o mundo sombrio da guerra, ao mesmo tempo em que explora temas como o patriotismo, o sacrifício e o trauma de guerra.
Alice Winn consegue como que apaziguar-nos, ao alternar todos aqueles horrores com a beleza poética e algum humor. A inclusão de excertos de poemas da obra de Lord Tennyson, e de outros poetas, contribui para serenar o leitor. Como se houvesse camadas sobrepostas entre a humanidade que é e a humanidade possível.
A autora também recorre às pausas na narrativa para integrar a página do jornal de Prehshutian, adicionando uma dose de realismo à história e destacando a tragédia dos jovens soldados que perderam a vida na guerra.
A inclusão do Preshutian baseia-se no jornal do colégio onde a autora estudou, Marlborough College de 1913-1919, e no qual se pode verificar a idade dos jovens mortos em guerra e que ficaram nos memoriais e nos quadros de honra. O que quer que isso signifique… importa, sim, relevar que se torna, mais uma vez e infelizmente, premente refletir sobre o passado. Tanto mais que vivemos num tempo em que acontecem várias guerras em simultâneo, lembrando que, afinal, continuamos a cometer os mesmos erros.
Somos levados a virar a página atrás de página, pela narrativa envolvente que se enquadra na ficção histórica e cuja pesquisa se reflete na verosimilhança dos confrontos. O romance dá-nos, então, uma visão detalhada e realista da época da Primeira Guerra Mundial, destacando a brutalidade das trincheiras e os efeitos devastadores das batalhas na vida das pessoas.
É, sem dúvida, de elogiar a escrita de Alice Winn, particularmente se se tiver em consideração que é o seu romance de estreia.
Não obstante, em alguns momentos parece um pouco previsível no que à ideologia de género concerne, podendo mesmo ser criticada por aqueles que se revirão num retrato mais ou menos violento dos relacionamentos homossexuais. O sentimentalismo pode ser, igualmente, considerado um pouco excessivo, sobretudo pelo uso de alguns clichés. Reforça-se, porém, que isso não retira qualidade a este romance histórico que expõe as atrocidades cometidas então e que, mais uma vez, se repetem.
Numa entrevista ao The Gaurdian, a autora, de 30 anos, revela que era disléxica e que só aprendeu a ler aos nove anos, tendo sido fortemente influenciada pelas leituras que a sua mãe lhe fazia. Alice Winn estudou literatura inglesa em Oxford, depois de viver em Paris e ter estudado no Colégio interno de Marlborough, também no Reino Unido.
Esta recensão foi publicada no Jornal Página 1.