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Nascido em 1981, em Espanha, Héctor García vive no Japão, desde 2004. Antes de se radicar no oriente, trabalhou como engenheiro de software no CERN (Centro Europeu de Pesquisa Nuclear), na Suíça. Ficou conhecido desde a publicação do livro “A Geek in Japan”. Mas foi com o livro “Ikigai”, escrito com o conterrâneo Francesc Miralles, que se viria a tornar um fenómeno mundial.
Francesc Miralles é também um autor premiado de livros de desenvolvimento pessoal. Nascido em Barcelona em 1968, já trabalhou como editor, tradutor e ghost-writer. Estudou jornalismo, literatura inglesa e alemão e é músico. Foi, também, depois de uma longa viagem à Índia que escreveu o seu primeiro romance.
Depois de “Ikigai” e outras derivações do método pelos autores desenvolvido, surge este “Namasté. O caminho indiano para a felicidade”, publicado, em Portugal, pela Albatroz.
Desenganem-se os leitores se estavam à espera de um manual com receitas para encontrar o nirvana, o zen, ou algo semelhante, dependendo da crença religiosa de cada um. É antes uma introdução a diversas religiões e práticas espirituais, sobretudo as que estão ligadas ao hinduísmo, não fosse este um caminho indiano.
O livro está divido em três partes. Na primeira parte, “A cultura da felicidade”, os autores começam por descrever a saudação e o significado de “Namasté”. Se dúvidas havia, quando alguém une as palmas das mãos, à altura do centro do peito, com os dedos a apontar para cima e os polegares próximos do peito, inclinando o tronco para a frente e pronunciando a palavra “Namasté”, está a dizer: “a minha alma saúda a tua”, ou “o que há de sagrado em mim reconhece o que há de sagrado em ti”.
Os autores prosseguem apresentando cinco ideias de cinco mestres para o mundo atual. Impressionante pode ser o caminho Sadhu, o estilo de vida do viajante indiano, “baseado na renúncia para atingir a lucidez espiritual”. A renúncia e a sobriedade caminham juntas neste percurso constituído por quatro fases de vida, cuja resposta à questão “De que podemos prescindir?”, parece ser uma das opções mais práticas da existência.
É num “ashram” que se podem encontrar as condições ideais para aprender a viver em comunidade. O exemplo de Elizabeth Gilbert também é nomeado, com o seu “Comer, orar e amar”.
Na segunda parte do livro, “A filosofia da felicidade”, os autores convidam ao leitor à auto-indagação, em que a primeira pergunta é, naturalmente, “quem sou eu?” Apesar de ser uma formulação simples, nem sempre é fácil de responder, tão embrenhados que estamos na corrida para ter e ter e ter. É precisamente aquilo que resta, depois de tudo o que se perde num naufrágio, por exemplo, que se poderá eventualmente saber responder àquela grande questão existencial.
Para auxiliar à reflexão, os autores vão citando outras obras, destacando-se o livro de Don Miguel Ruiz, “Os quatro acordos”, aqui denominados de “os quatro desapegos”, o primeiro dos quais é sempre o “ego”.
Dharma, karma, samsara e nirvana são outros termos que o leitor poderá reconhecer e relembrar, estando aqui contextualizados e como introdução à terceira e última parte do livro, “A prática da felicidade”. Nesta, os autores sugerem e descrevem algumas técnicas de respiração para diversas situações do quotidiano. A prática do ioga, a medicina Ayurveda são outras sugestões dos autores.
Fica, por isso, patente a ideia de que é uma introdução às diversas possibilidades para o caminho espiritual. O importante é que cada pessoa percorra aquele com o qual se identifica, quer em termos de práticas meditativas, mais passivas ou ativas, como o ioga, quer em termos de aprendizagem e mesmo de alimentação. No fundo, as bases para uma vida espiritual, sendo certo que uma alimentação saudável é fundamental para uma vida globalmente saudável, onde se insere, naturalmente (para os autores), a prática da meditação.
É uma leitura curta e fácil, porque escrito de forma simples para principiantes em meditação, ou para as pessoas curiosas pela cultura milenar indiana.
Esta recensão foi publicada no Jornal Página1.