Ryan Holiday auto-descreve-se como escritor e estratega dos meios de comunicação social. Aos 19 anos terá abandonado a faculdade para se tornar aprendiz de Robert Greene, um dos autores do livro “As 48 Leis do Poder”.
Fundador da agência criativa Brass Check, Ryan Holiday afirma-se como conselheiro de empresas como a Google, a TASER e a Complex, bem como de diversos autores, como Neil Strauss (“Regras do Jogo”), Anthony Robbins (“O poder sem limites”) e Tim Ferriss (“4 horas por semana”).
É também autor de 10 livros, entres os quais “A quietude é a resposta” (Lua de Papel), “Estoico todos os dias” (Lua de Papel) e “O ego é o seu inimigo” (em português do Brasil, pela Editora Intrínseca). Livros que se inspiram no designado estoicismo da antiguidade clássica.
Só por isso, talvez valha a pena pegar neste “O obstáculo é o caminho” (publicado pela Lua de Papel), pois, tal como o autor sugere, mais do que ler livros sobre os clássicos, é melhor ler o que os próprios filósofos terão escrito, nomeadamente, “Meditações” de Marco Aurélio, ou “Sobre a brevidade da vida”, de Séneca.
Será, portanto, natural que no decorrer da leitura a curiosidade vá aumentando, no sentido de se querer conhecer os princípios do estoicismo, a partir dos quais também este “O obstáculo é o caminho” se desenvolve.
De salientar que, para quem não conhece o estoicismo, as suas origens, tão-pouco os seus princípios, este pode ser, efectivamente, um ponto de partida interessante, dada a leitura fácil pela simplicidade da escrita. Além disso, na tradução do livro optou-se por tratar o leitor por tu, o que poderá resultar numa sensação de proximidade.
O livro está dividido em três partes: “perceção, ação e vontade”. As partes para compreender e agir sobre os obstáculos, e, finalmente, para persistir e perseverar nessa jornada. Para cada uma das secções, o autor recorre a exemplos de pessoas que ficaram famosas pelos seus feitos, identificando-as como personalidades com atitude e pensamento estoicos.
A título de exemplo, o primeiro presidente dos Estados Unidos, George Washington, terá recorrido com frequência a Catão, o Jovem – um dos primeiros estoicos da antiguidade clássica – nos seus discursos para as tropas, aquando da Guerra da Independência. Steve Jobs, Margaret Thatcher são outras pessoas referenciadas, entre muitas outras ao longo do livro.
Ainda que seja incerto que estas pessoas se tenham assumido como estoicas, Ryan Holiday consegue cativar aqueles que estejam em busca de uma orientação para alcançar os seus objectivos. É, assim, mais um livro de auto-ajuda que poderá ser útil a todos os que estão à procura de mudança na sua vida profissional, em particular aqueles que acreditam que basta desejar e visualizar o sucesso, como é apanágio de algumas correntes ‘new age’.
Pelo contrário, ao invocar alguns dos princípios do estoicismo, o autor está, sim, a mostrar que a vida é constituída por um conjunto interminável de obstáculos. Apesar de não ser nada de novo, é um bom lembrete de que a ilusão é apenas e somente isso mesmo: uma ilusão. Não basta acreditar que tudo se resolverá, que os astros se vão alinhar e que tudo será possível, que basta querer e seremos famosos ou pessoas de sucesso.
Este livro tem essa vantagem: a de lembrar, aos mais ingénuos, que a vida, o mundo e a realidade são como são e não vale a pena perder tempo a desejar que fosse de forma diferente. Nesse sentido, é um livro prático, por recordar que os obstáculos, os percalços, as vicissitudes da vida são inerentes à existência e que quanto mais rápido se aceitar que assim é, mais rápido se aprenderá a ser prático e a ultrapassar ou a contornar cada obstáculo.
Além da mudança, esta pode ser outra constante da existência: nada é fácil e haverá sempre mais uma barreira antes de alcançarmos os nossos objetivos, sendo certo que depois de os atingirmos (se os atingirmos), outras adversidades se terão de enfrentar.
Por isso, o conselho do autor, repetido ao longo do livro – mesmo que inicie afirmando que não tem conselhos para dar –, é que se vejam as coisas como elas são, que se faça o que se pode e que se aguente e resista ao que for preciso.
Tudo isto cumprindo com o nosso dever:
“trabalho árduo, honestidade, ajudando os outros tanto quanto podemos”. Em que a “ação certa – altruísta, dedicada, magistral, criativa – é a resposta” ao sentido da vida e é “uma maneira de transformar cada obstáculo numa oportunidade” (p. 108).
No caso de haver reimpressões futuras, sugere-se uma revisão do livro.
Esta recensão foi publicada no Jornal Página 1.