Desaparecido em 2018, aos 85 anos, Philip Roth é considerado o maior escritor americano do século XX. Foi reconhecido pelo seu trabalho com vários prémios, como o Pulitzer, em 1998, pela obra “Pastoral Americana”, o National Book Award, em 1969, por “Adeus, Columbus”, entre muitos outros. O escritor foi várias vezes mencionado para o Nobel da Literatura, mas é provável que a crítica que lhe está associada, a de ser antissemita, tenha tido algum peso nessa ausência.
O judaísmo era, aliás, um dos temas recorrentes do autor, o que lhe terá valido uma série de críticas por parte da comunidade judaica. Paralelamente, os temas da família e da sexualidade concorriam para as polémicas de que foi alvo ao longo da sua vida, como aconteceu com a obra “O complexo de Portnoy”.
Uma das características do autor era, precisamente, a sua capacidade para conjugar diferentes temas numa mesma obra, no que alguns designam de “realismo sincrético”, tal a sua habilidade genial para entrelaçar o homem comum numa teia que envolve tanto a política norte-americana, como a família, a religião e a sexualidade. Posteriormente, acrescentou o tema do envelhecimento, de que são exemplo “Humilhação” e “O fantasma sai de cena”.
Em “Indignação”, reeditado pela D. Quixote, repete-se a figura recorrente: o jovem judeu. Neste caso, o jovem Marcus Messner, filho de um talhante kosher, que vive em conflito com o pai desde que entrou na universidade. Para se afastar das preocupações, sem sentido, da figura paterna, prefere estudar noutra cidade.
De Newark, muda-se então para Ohio, onde descobre a sexualidade, com uma jovem problemática que, logo no primeiro encontro, lhe oferece sexo oral.
Perplexidade à parte, o seu objetivo é estudar e ser o melhor aluno, de modo a escapar à guerra da Coreia. Mas, conflito atrás de conflito com os colegas de quarto, Marcus vê-se em situações inimagináveis para a sua juventude e parca experiência. Reconhece, assim e sem compreender ainda, o peso das instituições e da política, ficando indignado com o modo como é tratado, em particular, pelo Deão da Universidade de Winesburg.
É com o responsável máximo da Universidade que Marcus tem grandes discussões ideológicas, indo buscar a Bertrand Russel os seus argumentos para não frequentar a capela (cristã), onde todos os estudantes (em teoria) estão obrigados a assistir à missa, pelo menos quarenta vezes.
O narrador é a personagem principal que, sob o efeito da morfina, nos conta como e porquê pediu transferência para outra universidade, bem como a cadeia de acontecimentos que o conduziram à indignação.
Como é hábito, o autor é mestre em agarrar o leitor desde a primeira até à última página, talvez pelo realismo que caracteriza a sua obra, sendo fácil e provável uma identificação com a personagem principal.
Ainda que o prosaico se possa sentir, a profundidade da vida espelha-se nessa simplicidade e na angústia e medo que assalta qualquer ser humano: a morte – aqui, representada pelo medo da personagem principal em ser chamada para combater na guerra da Coreia.
Esta recensão foi publicada no Jornal Página 1.