Jay Shetty é um autor britânico de origem indiana, que ficou muito conhecido pela obra Pensa como um monge, editado em Portugal pela Albatroz, tal como este, 8 Regras do amor.
Depois de ter vivido vários anos, na Índia, a aprender a prática védica com monges em ashrams, Shetty começou a partilhar as suas ideias e conteúdos no mundo virtual e digital.
Actualmente, além destes dois bestsellers, Shetty tem um dos podcasts mais ouvidos no Mundo, On purpose, e é um dos life coachs mais conhecidos e seguidos na Internet.
As 8 regras do amor, sugeridas pelo autor, dividem-se em quatro partes: Tempo a sós, Compatibilidade, Cura e Conexão.
Jay Shetty agrupa estas etapas e descreve as regras, recorrendo às lições dos livros primordiais da tradição oriental e fazendo uma analogia com as quatro etapas de vida descritas pelos Vedas, como se cada ashram fosse uma “sala do Veda”, “uma escola de aprendizagem, crescimento e apoio” (p. 14):
1. Brahamacharya ashram – “Preparação para o amor”, que inclui as duas primeiras regras.
Para aprender o amor a dois, é preciso apreciar o tempo que se está a sós – a Regra 1: “Deixe-se estar sozinho”. Com a Regra 2, “Não ignorar o carma”, o autor diz-nos que: “O carma é um espelho que nos mostra onde as escolhas nos levaram…” (p. 53).
2. Grhastha ashram – “Pôr o amor em prática”, a partir de 3 regras.
Nesta parte, o autor ajuda a compreender que o amor é um processo contínuo e a dois, e que, antes de se tomar uma série de decisões, é preciso perceber se somos compatíveis. Ou seja, “antes de decidirmos que estamos apaixonados, de declararmos o nosso amor a alguém e de determinarmos o que significa quando essa pessoa nos diz o mesmo, devemos ter em conta a nossa definição de amor” (p. 95) – a Regra 3: “Definir o amor”.
Regra 4: “A pessoa com quem está é o seu guru” – “Se escolhermos partilhar a vida com alguém com quem possamos crescer, então estaremos sempre a aprender” (p. 123).
Regra 5: “O propósito vem em primeiro lugar” – Nesta parte, Shetty lembra os condicionalismos a que todos somos sujeitos desde a infância e que, por vezes, nos levam a romantizar “a ideia de fazer sacrifícios e de nos dedicarmos a outra pessoa (…). Mas conheço pessoas que deixaram de lado os seus próprios propósitos e anos depois sentiram-se perdidas ou enganadas” (p. 151). No fundo, a recordar que, na vida a dois, há duas pessoas a serem respeitadas.
3. Vanaprastha ashram – “Proteger o amor” apresenta duas regras, com as quais se pode aprender a resolver conflitos – Regra 6: “Sejam vencedores ou perdedores juntos” – e a terminar um relacionamento, se necessário for – Regra 7: “Ninguém morre com o fim de uma relação”.
Nesta secção, o autor descreve o tipo de discussões que se pode travar com a pessoa com quem escolhemos viver, sendo certo que existem discussões produtivas e outras que servem apenas para aumentar ainda mais os conflitos. Uma espécie de minicurso de gestão de conflitos.
Entretanto, todos sabemos, mas se calhar é bom lembrar que a vida continua. O dramatismo é uma forma de dar consistência às histórias que precisamos para dar sentido à nossa vida, mas há algumas, cujo ponto final, é difícil de registar.
4. Sannyasa ashram – “Aperfeiçoar o amor”. Com a Regra 8 – “Ame uma e outra vez” –, estamos preparados para “experienciar o amor em qualquer momento com qualquer pessoa” (pp. 16-17).
Ao longo deste guia do amor, o leitor encontra, ainda, ‘fichas de trabalho’ com uma série de exercícios individuais e a dois. Como tal, é para se ir lendo, para se ir aprendendo, exercitando, refletindo, também, e, de preferência, com tempo.
É possível que o grande sucesso que este livro tem alcançado se deva ao facto de o autor sistematizar e congregar uma série de ensinamentos num único livro, numa escrita intimista, dando exemplos da sua própria vida e dos seus clientes – muitas celebridades entre estes, nomeadamente, Jennifer Lopez, Khloé Kardashian e Oprah Winfrey.
A estratégia de marketing é, realmente, forte. Desde logo pelo título: “Regras”; e parece funcionar, talvez pela ideia de que existe alguém a orientar-nos. Nesta sociedade fragmentada e de mosaico, as pequenas histórias são produtivas, sobretudo quando se baseiam em grandes e clássicas narrativas, como as do livro dos Vedas – esta abordagem resulta na nossa sociedade (quase) sem referências divinas, mas sedenta de orientação.
Também na contracapa, onde se lê que “ninguém nos ensina a amar”, “mas não tem de ser assim”, uma vez que neste livro encontramos “um guia completo para viver cada etapa do amor”.
O livro pode ser visto como um manual encorajante para todos aqueles que querem aprender um pouco mais sobre si próprios e sobre como manter (ou mesmo terminar) e aprofundar uma relação amorosa.
Esta recensão foi publicada no Jornal Página 1.