Conheci Rishabh Jain num dos muitos corredores de Chandni Chowok, o mercado de Velha Deli. Um dos rapazes de uma loja de tecidos desse mesmo mercado. O meu olhar deteve-se durante algum tempo numa pessoa que, bem sentada e muito compenetrada, preparava uma mistura e a espalhava numa larga folha de uma ‘qualquer’ árvore.
Rishabh registou o seu nome no meu caderno, enquanto eu desfrutava de uma nova experiência. Pedi-lhe que escrevesse o que estaria eu a mascar.
Ficou assim respondida, a questão, que me havia colocado minutos antes, ao ver um outro senhor muito satisfeito a esticar com todo o cuidado aquelas folhas muito verdes.
O ‘qualquer’ ficou esclarecido. Era uma folha de pimenta de bétele. É nesta folha que se embrulha a tal mistura que o segundo artesão preparava com todo a arte: paan ou gutkha.
Paan – noz de areca – é, então, a semente triturada que, depois de misturada com outras substâncias, como a pimenta e ervas, se masca durante alguns minutos. De acordo com a descrição escrita do jovem vendedor, além da pimenta, paan pode incluir tabaco e nicotina.
Isso mesmo me deixara curiosa, enquanto observava o artesão a espalhar com a sua espátula as diversas substâncias, que ia retirando de diferentes potes.
Segundo outras fontes, leva ainda cal e a sua constituição depende da zona onde é consumido. Sendo algo novo, e sendo possível ‘personalizar’, Rishabh traduziu o meu pedido ao velho homem. Que, por favor, anulasse a nicotina, o tabaco e a cal. Teoricamente algo menos nocivo.
De acordo com uma outra curta pesquisa, o paan tem efeitos semelhantes aos do tabaco.
Compreendi, assim, a razão de ser de tantos homens cuspirem para o chão. Ao fim de poucos minutos eu já não sabia o que fazer com os restos na boca. Fiquei ainda a saber o motivo de tantos homens terem os dentes coloridos de vermelho.
À parte os resquícios da folha, senti uma espécie de quase náusea, duas horas depois. Tendo sido apenas quase, valeu a pena pelo tempo que contemplei o velho artesão a preparar os embrulhos de paan, assim como pelo parágrafo no caderno. Ainda que Rishabh Jain tenha tido muito gosto em conhecer a senhora Ema.
Este texto foi publicado aqui, em fevereiro de 2018, onde escrevia sem o AO de 1990.