Nascido em 1970 e a viver em Milão, Alberto Riva é um escritor e jornalista italiano, que desde há muitos anos escreve sobre literatura e música para a revista semanal do jornal La Repubblica (Il Venerdí).
Entre outros livros, é autor de Sete (Mondadori 2011) e Tristezza per favore vai via (Il Saggiatore 2014). Com o trompetista de jazz italiano, Enrico Rava, escreveu Note Necessarie (Fax mínimo, 2004) e com o pianista de jazz, Stefano Bollani, escreveu Parliamo di musica (Mondadori 2013) e Il monello, il guru, l’alchimista e altre storie di musicisti (Mondadori 2015). Publicou ainda a edição de Il mondo è ingiusto, de Oscar Niemeyer (Mondadori, 2012).
No ano passado publicou O maestro e a infanta, um livro do género histórico agora chegado a Portugal, mas que retrata o nosso país em Setecentos.
Romance leve, mas cativante e empolgante, O maestro e a infanta conta-nos a história da amizade entre a Infanta Maria Bárbara de Bragança, filha do rei D. João V, e o maestro Domenico Scarlatti – um jovem compositor italiano, filho do reconhecido compositor Alessandro Scarlatti, e que muitos leitores “reconhecerão” como um personagem de Memorial do convento, de José Saramago –, convidado para a luxuosa corte portuguesa do século XVIII, a fim de instruir musicalmente o filho mais novo do Rei de Portugal.
Após a apreciação do maestro Scarlatti, os planos do rei ficam defraudados e é à infanta que o italiano dedicará o seu tempo. A infanta, em honra de quem foi mandado construir o convento de Mafra, é uma discípula empenhada que, além da aptidão para os idiomas – domina vários –, se dedica de corpo e alma à educação musical empreendida pelo maestro, cuja composição insegura é, afinal, a de um génio.
O primeiro encontro acontece em 1720 e desde então a sua amizade cresce e mantém-se até ao final da vida do maestro, que acompanha a infanta para a corte de Espanha, aquando do seu casamento com D. Fernando de Borbón, herdeiro do trono espanhol. A infanta tornar-se-ia, então, Princesa das Astúrias e, posteriormente, Rainha de Espanha.
As histórias das duas cortes cruzam-se com descrições que nos transportam para os tempos áureos da monarquia portuguesa e das suas relações com outros Estados.
A descrição fluida, com alguma ironia à mistura, é o motor para uma leitura fácil e envolvente e, ao mesmo, tempo instrutiva – como é usual nos romances históricos.
A forma como o autor retrata a infanta, e a coloca no centro deste romance, partilhando o protagonismo com o maestro, é original. Ao alternar o realismo histórico com as teias de um enredo ficcional, o leitor mergulha numa outra época repleta de um luxo imperialista e intrigas palacianas, bem como nos meandros da diplomacia europeia da época, em que se jogavam peças e cartas muito altas, para obter o domínio das colónias e das suas riquezas.
As personagens principais, a infanta e o maestro, são quase opostas em termos de personalidade e temperamento. A infanta extravasa a sua alegria e boa disposição através de um sorriso fácil e genuíno, enquanto aprende a lidar com as tramas da sua sogra – a então Rainha de Espanha, que passa para segundo plano quando a Princesa das Astúrias assume o lugar –; o maestro é a melancolia e seriedade em pessoa.
A sua discrição só é quebrada quando se vê no meio de uma nova sonoridade, que o encanta de tal modo que quase o faz perder o seu lugar. É da musicalidade da guitarra cigana que se trata, uma etnia que já na época é ostracizada e quase silenciada, pela perseguição e aprisionamento.
A amizade entre Domenico Scarlatti e Maria Bárbara perdura ao longo de 38 anos, sendo a rainha de Espanha a responsável pelo registo e divulgação das célebres Sonatas do maestro: 555 exercícios compostos pelo italiano para a sua discípula.
“O que são exatamente estas coisas que compõe, Mestre?
– Exercícios.
– Tudo bem, mas onde está a música?
– A música está dentro de vós, Majestade.”